Comitê de Defesa da Revolução Agrária

Comitê de Defesa da Revolução Agrária
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10 de nov. de 2011

A GRANDE CONSPIRAÇÃO

Terrorismo e sabotagem trotskistas na URSS: 

Espiões a serviço do fascismo e do imperialismo ianque.



Desde o momento em que Trotsky deixou o solo soviético, os agentes dos serviços secretos estrangeiros movimentaram-se ansiosos por tomarem contato com ele e utilizaram-se de sua organização anti-soviética internacional. A Defensivapolonesa, a Ovra fascista italiana, o serviço secreto finlandês, os emigrados rusos-brancos que dirigíam os serviços secretos anti-soviéticos na Romênia, Iugoslávia e Hungria, e elemetos reacionarios como o serviço secreto britânico e o Deuxieme Bureau francês prepararam-se para entendimentos com o “Inimigo Público Número um da Rússia”.
Havia fundos, assistentes, uma rede de serviços de espionagem e de correio à disposição de Trotsky para manter e estender suas atividades de propaganda anti-soviética internacional e para apoiar a reorganização de seu aparelho conspirativo dentro da Rússia Soviética.
O mais importante de tudo isso era a crescente intimidade de Trotsky com o serviço secreto militar alemão (Seção 111B) que, sob o comando do coronel Walther Nicolai, já estava colaborando com a promissora Gestapo de Heinrich Himmler.
Até 1930, o agente de Trotsky, Krestinsky, recebera aproximadamente 2.000.000 de marcos-ouro da Guarda do Reich Alemão para financiar atividades trotskistas na Rússia Soviética, em troca de dados de espionagem entregues ao serviço secreto militar alemão pelos trotskistas. Krestinsky revelou mais tarde:
“De 1923 a 1930 recebemos anualmente 250.0000 marcos-ouro alemães, aproximadamente 2.000.000 de marcos-ouro. Até o fim de 1927 as condições desse acordo foram encaminhadas várias vezes em Moscou. Depois disso, do fim de 1927 ao fim de 1928, no decurso de cerca de dez meses, houve uma interrupção na remessa desse dinheiro, pelo fato de o trotskismo ter sido desmantelado, ficando eu isolado, sem saber dos projetos de Trotsky e sem receber informações ou instruções… Isto continuou até outubro de 1928, quando recebi uma carta de Trotsky, que nessa ocasião estava exiladoem Alma Alta… Essa carta continha instruções para que eu recebesse o dinheiro dos alemães, que ele propunha fosse entregue a Maslow ou aos seus amigos franceses, isto é, Roemer, Madeline Paz e outros. Entrei em contato com o general Seeckt. Nessa ocasião ele resignara a falar sobre o caso com Hammerstein e obter o dinheiro. Obteve-o. Hammerstein era nesse tempo o chefe do estado-maior da Guarda do Reich, e em 1930 foi promovido a comandante-geral.”
Em 1930 Krestinsky foi designado como comisario-assistente do Ministério do Exterior e transferido de Berlim para Moscou. Sua remoção da Alemanha, juntamente com a crise interna que se ia operando dentro da guarda do Reich como resultado do crescente poder do nazismo, detiveram novamente a caudal de dinheiro alemão para Trotsky. Mas este já estava para entrar em novo e mais extenso acordo com o serviço secreto alemão.
Em fevereiro de 1931, o filho de Trotsky, Leon Sedov, alugou um apartamento em Berlim. De conformidade com o seu passaporte, Sedov era um “estudante” na Alemanha; aparentemente tinha chegado a Berlim para frequentar um “instituto científico alemão”. Mas havia razões mais urgentes para a presença de Sedov na capital alemã naquele ano…
Poucos meses antes, Trotsky tinha escrito um folleto intitulado Alemanha: A Chave da Situação Internacional. Cento e sete deputados nazistas tinham sido eleitos para o Reichstag. O Partido Nazista recebra 6.400.000 votos. Quando Sedov chegou a Berlim, havia um sentimento de expectativa e tensão febril  na capital germânica. Milícias de camisas-pardas cantando “Horst Wessel” desfilavam pelas ruas de Berlim, assaltavam lojas de judeus e davam batidas nas casas e clubes de liberais e trabalhadores. Os nazistas estavam confiantes. “Nunca em minha vida estive tão bem desposto, despreocupado e contente como naqueles dias”, escreveu Aldof Hitler nas páginas do Voelkischer Beobachter.
Oficialmente, a Alemanha ainda era uma democracia. O comércio entre Alemanha e a Rússia Soviética estava no seu ponto alto. O governo soviético estava comprando maquinaria de firmas alemãs. Técnicos alemães vinham desempenhando tarefas importantes nos projetos soviéticos de mineração e eletrificação. Engenheiros soviéticos visitavam a Alemanha. Representantes comerciais soviéticos, negociantes e agentes viajavam continuamente entre Moscou e Berlim em tarefas ligadas com o Plano Quinquenal. Alguns desses cidadãos soviéticos eram companheiros ou antigos discípulos de Trotsky.
Sedov estava em Berlim como representante do pai, em issão conspirativa.
“Leon estava sempre à esperita”, escreveu Trostsky mais tarde em seu folleto Leon Sedov: Filho-Amigo-Lutador, “procurando avidamente fios de contato com a Rússia, à caça de turistas que regressavam, de estudantes comisionados no exterior, ou funcionários simpatizantes nas representações estrangeiras.” A principal tarefa de Sedov em Berlim era entrar em contato com os antigos membros da oposição, comunicar-lhes as instruções de Trotsky, ou coligir mensagens importantes para seu pai. “A fim de evitar comprometer seus informantes” e “para evadir aos espiões da OGPU”, escreveu Trotsky, “Sedov perdia horas a fio nas ruas de Berlim”.
Numerosos e importantes trotskistas tinham conseguido obter postos na Comissão de Comércio Exterior Soviético. Entre eles havia Ivan N. Smirnov, outrora oficial do Exército Vermelho e antigo membro dirigente da guarda de Trotsky. Depois de um curto período no exílio, Smirnov seguira a estratégia dos demais trotskistas, denunciando Trotsky e solicitando a sua readmissão no Partido Bolchevique. Como engenheiro profissional, Smirnov obteve logo um posto subalterno na indústria de transporte. No começo de 1931, Smirnov foi indicado como engenheiro-consultor de uma missão comercial que estava para seguir para Berlim.
Logo após a sua cegada em Berlim, Ivan Smirnov tomou contato com Leon Sedov. Em reuniões clandestinas no apartamento de Sedov e nas cervejarias e cafés suburbanos distantes da cidade, Smirnov soube dos planos de Trotsky para reorganização da oposição secreta em colaboração com agentes do serviço secreto alemão.
Daí em diante, comunicou Sedov a Smirnov, a luta contra o regime soviético devia assumir o caráter de uma ofensiva total. As antigas rivalidades e divergências políticas entre trotskistas, bukharinistas, zinovievistas, mencheviques, social-revolucionários e outros grupos e facções anti-soviéticas deveriam ser esquecidas. Era preciso formar-se uma oposição única.
Em segundo lugar, a luta asumiria daí por diante um caráter militante. Devia iniciar-se uma campanha nacional de terrorismo e sabotagem contra o regime soviético. Essa campanha tinha de ser elaborada com todos os seus pormenores. Por meio de golpes amplos e cuidadosamente sincronizados a oposição se habilitaria a derribar o governo soviético no meio de uma desesperadora confusão e desmoralização. Então a oposição tomaria o poder.
A tarefa imediata de Smirnov era transmitir as instruções de Trotsky para a reorganização do trabalho subterrâneo preparativos para o terrorismo e sabotagem, aos membros mais fiéis da oposição em Moscou. Competia também a ele enviar “dados regulares” a Berlim — que seriam entregues a Sedov por intermédio de portadores trotskistas, dados que Sedov confiaria ao pai. A senha de identificação desses portadores seria: “Eu trouxe saudações de Galya.”
Sedov solicitou a Smirnov mais uma coisa enquanto estava em Berlim. Ele devia encontrar-se com o chefe de uma missão comercial soviética que chegara recentemente em Berlim e informar a esse personagem que Sedov estava na cidade e desejava vê-lo para um assunto de extrema importância.
O chefe da missão comercial soviética que havia pouco chegara em Berlim era antigo companheiro de Trotsky e seu mais devoto admirador, Yuri Leonodovitch Pyatakov.
Magro e alto, bem trajado, testa altamente chanfrada, rosto pálido e barbicha ruiva e polida, Pyatakov parecia mais um mestre-escola do que o veterano conspirador que era. Em 1927, após o pretendido Putsch, Pyatakov fora o primeiro líder trotskista a romper com Trotsky e solicitar readmissão no Partido Bolchevique. Homem de extraordinária habilidade em direção e organização comercial, Pyatakov obteve várias tarefas nas indústrias soviéticas que se expandiam rapidamente, e isso mesmo quando ainda exilado na Sibéria.
No fim de1929, foi readmitido no Partido Bolchevique, para prova. Desempenhou uma série de cargos de direção em projetos de planificação industrial de transporte e produtos químicos. Em 1931, obteve um lugar no Supremo Conselho Econômico, a principal instituição soviética de planejamento; e nesse mesmo ano foi enviado a Berlim como chefe de uma missão especial para compra de equipamento industrial para o governo soviético.
Segundo as instruções de Sedov, Ivan Smirnov procurou Pyatakov em seu escritório em Berlim. Smirnov contou que Leon Sedov estava em Berlim e tinha uma mensagem especial de Trotsky para ele. Poucos dias depois, Pyatakov encontrou-se com Sedov. Eis como ele próprio narrou o encontro:
“Há um café conhecido como ‘Am Zoo’, a pequena distância do Jardim Zoológico na praça. Fui para lá e vi Leon Sedov sentado a uma mesinha. Nós nos tínhamos conhecido perfeitamente no passado. Ele me disse que não falava em seu próprio nome, mas em nome de Trotsky, e que este, sabendo que eu estava em Berlim, dera-lhe ordens categóricas para me procurar, encontrar-se pessoalmente comigo e falar-me. Sedov disse que seu pai não abandonara por um momento sequer a idéia de retomar a luta contra o governo soviético, que tinha havido uma pausa temporária, devida em parte ao vaivém de Trotsky de um país para outro, mas que essa luta estava para ser retomada, e disso ele, Trotsky, queria me informar… Depois Sedov perguntou-me a queima-roupa: ‘Trotsky pregunta a você Pyatakov, se tenciona ajudá-lo nessa luta.’ Dei-lhe o meu consentimento."
Então Sedov passou a informar Pyatakov acerca das linhas segundo as quais Trotsky se propusera a reorganizar a oposição:
“… Sedov continuou desenvolvendo a natureza e os novos métodos de luta: não se tratava de desenvolver uma simples luta de massas; se adotássemos essa modalidade de trabalho fracasaríamos imediatamente; Trotsky estava firme na idéia de uma derrocada violenta do governo de Stálin por métodos terroristas e destrutivos. Sedov disse ainda que Trotsky chamara a atenção para o fato de ser uma aberração confinar essa luta a um só país, não sendo possível fugir ao caráter internacional da questão. Nessa luta temos de achar também a solução necesaria para o problema internacional ou ao menos, para os problemas inter-estatais.
Quem quer que tente pôr de lado essas quesotes, disse Sedov, relatando palavras de Trotsky, assina seu próprio testimonium pauperatis.”
Seguiu-se logo uma segunda reunião entre Sedov e Pyatakov. Nessa ocasião Sedov lhe disse: “Você observa, Yuri Leonodovitch , que cada vez que se retoma a luta, é preciso dinheiro. Você pode providenciar os fundos necesários para a luta.” Sedov informou Pyatakov como poderia fazê-lo. Na sua qualidade de representante comercial do governo soviéticon na Alemanha, Pyatakov podia comprar o que quisesse nas duas firmas alemãs Borsig e Demag. Pyatakov não seria “muito exigente em matéria de preços” na realização desses negócios. Trotsky tinha um acordo com Borsig e Demag. “Você pagará preços mais altos”, disse Sedov, “mas esse dinheiro será encaminhado para os nossos trabalhos.”
Houve dois outros oposicionistas secretos em Berlim em 1931, que Sedov pôs a trabalhar no novo aparelho trotskista. Eram eles Alexei Chestov, engenheiro da missão comercial de Pyatakov, e Sergei Bessonov, membro da representação comercial da URSS em Berlim.
Bessonov, antigo social-revolucionário, era um homem possante, de aprência meiga, rosto moreno, que ia pelos seus quarenta. A representação comercial em Berlim, de quem Bessonov era membro, era a agência comercial soviética mais central na Europa e dirigia negociações com dez países diferentes. Ele estava, pois, idealmente habilitado a servir como “ponto de ligação”, entre os trotskistas russos e seu líder exilado. Ficou combinado que as comunicações trotskistas secretas da Rússia seriam enviadas a Bessonov em Berlim, e este as confiaria a Sedov ou a Trotsky.
Alexei Chestov era um personagem diferente, e sua tarefa devia corresponder ao seu temperamento. Ele tornar-se-ia um dos principais organizadores das células de espionagem e sabotagem alemã-trotskista na Sibéria, onde ele era membro do quadro do Truste Oriental e Siberiano de Carvão. Chestov estava no começo de seus trinta anos. Em 1923, quando ainda estudante en Moscou, no Instituto de Mineração, Chestov ligara-se à oposição trotskista, e, em 1927, chefiara uma das tipografias secretas em Moscou. Jovem esbelto, olhos claros, possuidor de intensa e violenta disposição, Chestov acompanhou Trotsky com fanática devoção. “Econtrei-me várias vezes, pessoalmente, com Trotsky”, gabava-se ele com satisfação. Para Chestov, Trotsky era “o líder”, e era como quase invariavelmente se referia a ele.
“Nosso papel não é espreitar e assobiar à espera de bom tempo”, disse Sedov a Chestov quando se encontraram em Berlim. “Precisamos dar-nos com todas as nossas forças e meios à nossa disposição a uma política ativa de descrédito do governo Stálin e da sua política.” Trotsky sustentava que “o único caminho certo, caminho difícil mas seguro, era o da destituição de Stálin e dos chefes do governo por meios terroristas”. “Andamos às cegas”, concordou prontamente Chestov. “É necessário traçar um novo plano de luta!”
Sedov disse a Chestov que conhecia um industrial alemão chamado Dehlmann que era diretor da firma Froelich-Kluepfel-Dehlmann. Muitos dos engenheiros dessa firma eram empregados das minas siberianas do Leste, onde trabalhava o próprio Chestov, que o conhecia de nome.
Sedov disse então a Chestov que ele tinha “de entrar em contato com Dehlmann” antes de regressar à Rússia Soviética. A firma Dehlmann, explicou, poderia ser muito útil à organização trotskista para “solapar a economia soviética” na Sibéria. Herr Dehkmann já estava ajudando a contrabandear propaganda e agentes trotskistas na União Soviética. Em troca disso, Chestov poderia fornecer a Herr Dehlmann informações acerca das novas minas e indústrias siberianas, nas quais o diretor alemão estava particularmente interessado…
“Você está me aconselhando a entrar em entendimento com a firma?” perguntou Chestov. “Que há de terrível  nisso”, replicou o filho de Trotsky. “Se eles nos estão prestando um favor, por que não lhes prestaríamos o de fornecer algunas informações? “Você está propondo simplesmente que eu me torne um espião!”, exclamou Chestov.
Sedov encolheu os ombros. “É absurdo usar palavras como essa”, disse ele. Numa luta não é razoável ser tão melindroso assim. Se você aceita o terrorismo, se você aceita a destruição e solapamento da indústria, francamente não consigo entender como não possa concordar com o que lhe proponho”.
Poucos dias depois, Chestov viu Smirnov e contou-lhe o que dissera o filho de Trotsky. “Sedov mandou-me estabelecer ligação com a firma de Froelich-Kluepfel-Dehlmann”, disse Chestov. “Brutalmente, ele me disse que estabelecesse ligação com uma firma empenhada em espionagem e sabotagem em Kuzbas. Nesse caso eu seria um espião e sabotador”. “Deixe essas palavras bonitas 'espião' e 'sabotador'"!, exclamou Smirnov. “O tempo passa e é preciso agir… O que há de surpreendente para você quando se considera que é possível derribar o governo de Stálin mobilizando todas as forças contra-revolucionárias em Kuzbas? O que você acha de tão terrível em alistar agentes germânicos nesse trabalho?... Não há outro caminho. Temos de aceitá-lo."
Chestov calou-se. Smirnov perguntou-lhe: "Qual a sua opinião?" “Não tenho opinião pessoal”, disse Chestov. “Faço como o nosso líder Trotsky nos ensinou — presto atenção e aguardo ordens.”
Antes de deixar Berlim, Chestov encontrou-se com Herr Dehlmann, diretor da firma alemã que financiava Trotsky. Chestov foi recrutado, sob o nome em código de “Alyosha”, no serviço secreto militar alemão. Chestov declarou depois:
“Encontrei-me com o diretor dessa firma, Delhmann, e o seu assistente Koch. A essência da palestra com os chefes da firma Froelich-Kluepfel-Dehlmann foi o seguinte: primeiro, suprimento de informações secretas, por meio de representantes dessa firma que trabalhavam na Bacia de Kuznetsk e organização de uma trabalho de destruição e divisão juntamente com os trotskistas. Foi dito que a firma, em troca disso, ajudar-nos-ia e enviaria mais gente se nossa organização o requisitasse... Eles ajudariam de todo modo os trotskistas na escalada do poder.”
De volta à Rússia Soviética, Chestov trouxe uma carta, que Sedov lhe tinha entregado para Pyatakov, que regressara a Moscou. Chestov escondeu a carta na sola de um de seus sapatos. Entregou-a a Pyatakov no Comissariado da Indústria Pesada. A carta era do próprio Trotsky, escrita em Prinkipo (Turquia, onde ele estava exilado). Delineava as “tarefas imediatas” da oposição na Rússia Soviética.
A primeira tarefa era “utilizar-se de todos os meios possíveis para derribar Stálin e seus sócios”. Isso significava terrorismo.
A segunda tarefa era “unir todas as forças anti-stalinistas”. Isso significava colaboração com o serviço secreto alemão e com qualquer outra força anti-soviética que quisesse trabalhar juntamente com a oposição.
A terceira tarefa era “torpedear todas as medidas do governo soviético e do Partido, particularmente no campo econômico”. Isso significava sabotagem.
Pyatakov devia ser o principal lugar-tenete de Trotsky responsável pelo trabalho conspirativo dentro da Rússsia Soviética.
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Assassinato no México
débacle final da quinta-coluna russa no julgamento do Bloco das Direitas e Trotskistas em Moscou foi um tremendo golpe em Trotsky. Uma nota de desespero e histeria começou a dominar em todas os seus escritos. Sua propaganda contra a União Soviética tornava-se cada vez mais atrevida, contraditória e extravagante. Ele falava incessantemente de sua “retidão histórica”. Seus ataques a Stálin perderam toda aparência de razão. Escrevia artigos assegurando que o líder soviético achava um prazer sádico em “atirar fumaça” no rosto de crianças. Cada vez mais seu ódio pessoal contra Stálin foi tornando-se a força dominadora da vida de Trotsky. Pôs seus secrtários trabalhando em uma Vida de Stálin, um vitupério maciço de mil páginas.
Em 1939, Trotsky esteve em contato com o Comitê do Congresso chefiado pelo representante Martin Dies, do Texas. O comitê, fundado para investigar sobre atividades anrtiamericanas, tonara-se um fórum de propaganda anti-soviética. Trotsky foi abordado por agentes do “Comitê Dies” e convidado a depor como “testemunha idônea” sobre a ameaça de Moscou. Foi citada uma declaração de Trotsky no New York Times de 8 de dezembro de 1939, em que ele considerava seu dever político depor perante o “Comitê Dies”. Discutiram-se projetos para a vinda de Trotsky aos EUA. O projeto, entretanto, fracassou.
Em setembro de 1939, um agente trotskista europeu, viajando sob o nome de Frank Jacson, chegou aos EUA no vapor francês Ile de France. Jacson fora recrutado para o movimento por uma trotskista americana, Sílvia Ageloff, quando ainda estudante na Sorbone, em Paris. Em 1939, ele foi procurado em Paris por um representante do bureau secreto da IV Internacional, que lhe comunicou que tinha de seguir para o México, para trabalhar como um dos “secretários” de Trotsky. Foi-lhe dado um passaporte que originalmente partencia a um cidadão canadense, Tony Babich, membro do exército republicano español, morto pelos fascistas na Espanha. Os trotskistas tinham conseguido o passaporte de Bebich, tiraram a sua fotografia e inseriram a de Jacson no seu lugar.
À sua chegada em Nova York, Jacson encontrou Sílvia Ageloff e outros trotskistas, os quais o tomaram e o levaram para Coyoacan, onde trabalharia com Trotsky. Posteriormente Jacson informou à polícia mexicana:
“Trotsky estava para me enviar à Rússia com o objetivo de organizar um novo estado de coisas na URSS. Disse-me que eu tinha de ir a Xangai, encontrar-me com outros agentes e juntamente com eles eu teria de cruzar o Manchucuo e chegar à Rússia. Nossa tarefa seria semear desânimo no Exército Vermelho, cometer atos de sabotagem em fábricas e indústrias de armamentos.”
Jacson não exerceu nunca a sua missão terrorista na União Soviética. Até que numa tarde de 20 de agosto de 1940, na vila fortemente protegida de Coyoacan, Jacson assassinou seu líder, Leon Trotsky, esmagando-lhe a cabeça com uma picareta.
Preso pela polícia mexicana, Jacson disse que desejava casar-se com Sílvia Ageloff, e que Trotsky proibira o casamento. Uma violenta disputa, envolvendo a moça, irrompeu entre os dois homens. “Por amor dela”, disse Jacson, “eu me decidira a sacrificar-me inteiramente.”
Em declarações posteriores, Jacson disse:
“… Em vez de achar diante de mim um chefe político dirigindo a luta de libertação da classe operária, eu me encontrei diante de um homem que não desejava outra coisa senão satisfazer as suas necesidades e desejos de vingança e ódio, e que não se utilizava da luta dos trabalhadores a não ser para ocultar a sua pequenez e seus cálculos inconfessáveis.
… Quanto à sua casa, que ele dizia muito bem ter sido convertida numa fortaleza, eu perguntei várias vezes a mim mesmo de onte teria vindo o dinheiro para aquelas obras… Talvez o cônsul de uma grande nação estrangeira que o visitava frequentemente pudesse dar-nos uma resposta a essa pregunta.
Foi Trotsky quem destruiu a minha natureza, o meu futuro e todas as minhas afeições. Ele converteu-me num homem sem nome, sem pátria, num seu instrumento. Fiquei às cegas… Trotsky amarrotou-me em suas mãos como uma folha de papel.”
A morte de Leon Trotsky deixava um só candidato vivo para o papel de Napoleão da Rússia: Adolf Hitler.         

5 de out. de 2011

INTENTONA INTEGRALISTA

Seguindo os pontos estabelecidos pela Constituição de 1934, o governo de Getúlio Vargas deveria restabelecer o regime democrático com a convocação das eleições presidenciais para 1937. Nesse período dois movimentos políticos surgiram no país oferecendo propostas de caráter distinto: a Aliança Nacional Libertadora – inspirada nos ditames do pensamento político comunista; e a Ação Integralista Brasileira – movimento nacionalista influenciado pelo ideário nazi-fascista.

A rearticulação do cenário político nacional expresso por esses dois movimentos dava fim ao vácuo ideológico que permitiu a deflagração da Revolução de 1930. No caso dos aliancistas, o discurso de natureza revolucionária figurava uma ameaça potencial aos interesses das alas governistas e das elites econômicas nacionais. Em 1935, alguns dos membros da ANL acabaram reforçando a desconfiança de seus opositores ao tentar concretizar um golpe de Estado durante a chamada Intentona Comunista.

A partir de então, o governo Vargas passou a utilizar desse levante para reforçar a eminente ameaça de uma ação golpista promovida pelas esquerdas. Contudo, mostrando seu comportamento dúbio, Getúlio Vargas não se manifestou contra as chapas que se apresentavam para disputar as eleições de 1938. De fato, o governo articulava em seus bastidores, com expresso apoio dos militares, o estabelecimento de um golpe que anulasse a consolidação da democracia plena no país.

Essa tendência autoritária e centralizadora era bastante próxima do projeto político dos integralistas, que viam nas liberdades democráticas uma séria ameaça ao desenvolvimento nacional. Em 1937, quando os aliados do golpe garantiram a instalação do chamado Estado Novo, os integralistas passaram a apoiar Getúlio Vargas. Em certa medida, o presidente passou a simbolizar a figura do líder supremo capaz de impor um governo rígido.

O apoio dos integralistas também se justificava na possibilidade de inserir membros do movimento no alto escalão do poder e na instalação de um novo contexto político unipartidário controlado pela AIB. Entretanto, frustrando as expectativas integralistas, Getúlio promoveu seu golpe de Estado colocando todos os partidos políticos na ilegalidade. Inconformados com essa ação, um grupo de aproximadamente oitenta integralistas realizou um ataque ao Palácio da Guanabara, em maio de 1938.

Apesar de quase conseguir invadir a residência presidencial, os integralistas acabaram sendo reprimidos pelas forças militares e policiais que apoiavam o Estado Novo. Outras ações revoltosas previstas pelos participantes foram igualmente frustradas mediante a falta de articulação dos envolvidos. Depois do acontecido, as forças governistas perseguiram e prenderam vários dos envolvidos. No ano seguinte, Plínio Salgado foi detido e, logo em seguida, levado a um exílio de seis anos em Portugal.

19 de jul. de 2011

PALESTINOS SÃO PRESOS POR ATIRAREM PEDRAS!


Israel deteve nos últimos cinco anos 835 jovens palestinos por atirarem pedras, e sentenciou a maior parte deles a penas de prisão, segundo um relatório divulgado na segunda-feira por uma entidade de direitos humanos.O grupo israelense B'Tselem disse que os militares maltrataram e violaram os direitos dos jovens, a maioria deles com idades de 16 a 17 anos, mas alguns com apenas 12 ou 13 anos. As penas a eles variaram de alguns dias a um ano de prisão.As detenções ocorreram no período de 2005 a 2010. O relatório, baseado nos autos judiciais e em entrevistas, disse que a lei militar aplicada aos palestinos na Cisjordânia ocupada não oferece as mesmas proteções aos menores que as leis de Israel e de outros países.Os militares israelenses qualificaram o relatório de tendencioso, dizendo que ele ignora o fato de que os menores costumam ser explorados por grupos militantes, numa violação do direito internacional. Eles disseram também que as prisões e condenações dissuadem outros garotos de atirarem pedras. Jovens palestinos na Cisjordânia são habitualmente detidos pelas forças israelenses por atirarem pedras durante protestos e confrontos.

9 de nov. de 2010

Friedrich Engels

“Eu sempre fui o segundo violino”, disse Engels em carta a um amigo (J. Becker), referindo-se à sua importância quanto à elaboração da teoria do socialismo científico. Assim era ele: modesto, simples, sempre disposto a reconhecer o mérito das outras pessoas e a fugir das homenagens.
Com o mesmo nome do pai, Friedrich Engels (a mãe, Elizabeth Franziska), nasceu no dia 28/11/1820, em Barmem, reino da Prússia, que depois comporia a Alemanha unificada. Dedicou-se aos estudos, sempre aluno brilhante, queria cursar Direito e Economia, mas o pai, empresário próspero, tinha outro plano – queria que ele lhe sucedesse nos negócios e, para isso, obrigou-o a deixar a escola.
Acusação terrível, descrição brilhante


Encaminhado para uma fábrica da família em Manchester, Inglaterra, Engels, que já se posicionava a favor da liberdade, contrário à tirania e à opressão, passou a conviver com a realidade dos operários. “Abandonei a sociedade, os banquetes e a champanha da burguesia e dediquei minhas horas livres ao contato com verdadeiros operários, tratando da vida real”. Essa convivência produziu A Situação da Classe Operária na Inglaterra, que “ constitui uma terrível acusação contra o capitalismo e a burguesia; é a obra que melhor representa a situação do proletariado contemporâneo. …Nem antes de 1845 nem de-pois, se fez uma descrição tão brilhante e verdadeira dos sofrimentos da classe operária”. (Lênin)
Do Socialismo Utópico ao Socialismo Científico
Na Inglaterra, Engels conheceu o movimento autogestionário, participou de reuniões com Robert Owen, seu maior expoente, e escreveu nos  seus jornais, procurando mostrar sempre o posicionamento dos socialistas utópicos franceses, como Saint Simon e Charles Fourier, entre outros. Lia muito e simpatizava com os artigos de um jovem alemão, Karl Marx. Este também se entusiasmou ao conhecer um trabalho de Engels, escrito aos 20 anos, intitulado Esboço de Uma Crítica da Economia Política.
Em setembro de 1844, os dois se encontraram em Paris, nascendo uma parceria de importância inigualável para o proletariado de todo o planeta. “…o proletariado europeu tem o direito de afirmar que a sua teoria foi criada por dois cientistas e combatentes cujas relações mútuas superam todas as comoventes lendas antigas acerca da amizade entre os homens”.
O primeiro trabalho conjunto foi A Sagrada Família, denominação irônica que deram a dois filósofos alemães, os irmãos Bauer e seus discípulos. Eles consideravam o proletariado como massa desprovida de espírito crítico. Engels e Marx responderam que o proletariado é que conduz em si o futuro e será o artífice da própria libertação e da libertação de toda a humanidade.
De 1845 a 1847, Engels viveu em Bruxelas e Paris, dedicando-se ao estudo e à militância. Ele e Marx entraram em contato com uma associação secreta denominada Liga dos Comunistas. Os componentes da Liga pediram para que os dois companheiros dessem uma concatenação às idéias esboçadas. Surgiu o célebre Manifesto Comunista, publicado em 1848.
Nas Barricadas
Em 1848, estoura uma revolução popular na França, que se espalhou por toda a Europa Ocidental. Marx e Engels voltaram para a Alemanha, dispostos a pegar em armas. Marx foi logo preso e expulso e Engels se engajou, combatendo em quatro batalhas. “Todos que o viram sob o fogo, falam de seu excepcional sangue frio e absoluto desprezo pelo perigo” (Eleanor Marx).
Com a derrota da insurreição, Engels voltou a trabalhar na fábrica do pai em Manchester, para ajudar os exilados, inclusive a família de Marx. “Foi o seu cativeiro egípcio”, dizia Marx, referindo-se à escravização do povo hebreu no Egito relatada pela Bíblia. No tempo livre, dedicava-se ao estudo das ciências da natureza e da sociedade, ao acompanhamento e análise da conjuntura internacional e escrevia para jornais democráticos e de esquerda de vários países.
Engels foi o primeiro teórico socialista a especializar-se em assuntos militares, convencido que era de que o domínio da estratégia e da tática militares seria de vital importância para o sucesso da revolução proletária. Trata do assunto em A Guerra dos Camponeses na Alemanha, O Pó e o Reno (sobre a luta pela unificação da Itália), A Questão Militar na Prússia e O Partido Operário Alemão, e Notas sobre a Guerra, em que analisa a experiência da Comuna de Paris.
    Depurando a Internacional
Engels libertou-se do “cativeiro egípcio” no 2º semestre de 1870, quando se mudou para Londres e pouco após sua chegada, 4 de setembro, foi eleito para o Conselho Geral da Associação Internacional de Trabalhadores ( I Internacional).

A década seguinte foi de intensa luta ideológica. Primeiro, no combate ao anarquismo no interior da Internacional, que culminou com a expulsão dos bakuninistas; a seguir, contra o reformismo liderado por Lassalle no Partido Proletário alemão. No campo do reformismo, E.K. Duhring, professor da Universidade de Berlim lançou a proposta de “um novo comunismo”, que se construiria sem luta de classes. O  Anti-Duhring, escrito com a colaboração de Marx, não se limita a responder ao professor. É uma exposição sistemática do materialismo histórico e dialético e apresenta um balanço da evolução das ciências da natureza. Mostra o funcionamento das leis da dialética na natureza e na sociedade.
                  Todo apoio à Comuna
Março de 1871. O proletariado parisiense toma o poder e convoca a população para construir a nova sociedade, anunciando as primeiras medidas nesse caminho. Algumas províncias se levantam no interior, mas são logo sufocadas. O exército burguês se reorganiza e se alia com seu arquiinimigo até então, os invasores alemães, para retomar o domínio econômico e político. Em maio, depois de heróicos e sangrentos combates, a Comuna é derrotada. Desde o início da luta, Engels interveio no Conselho Geral da Internacional, no sentido de dar todo o apoio aos comuneiros dos quais, muitos, inclusive, eram filiados à organização. O apoio efetivamente aconteceu, tanto no período da luta como depois, com ajuda aos exilados e denúncia em todo o mundo da repressão feroz e do genocídio praticado contra os operários de Paris e suas famílias.
                                                                                Contribuição Original
Engels deu uma contribuição própria à teoria do socialismo científico, que foi a de estender à natureza a concepção materialista da dialética, uma vez que Marx se dedicou ao ser social. A contribuição engelsiana conferiu ao marxismo o caráter de filosofia, dada a generalização metodológica e teórica, contendo uma concepção de mundo, não apenas da sociedade.
Os seus últimos 12 anos de vida, Engels dedicou-os à edição do segundo e terceiro volumes de O Capital. Ao morrer, dia 14 de março de 1883, Karl Marx tinha concluído apenas o I volume. Deixou anotações sem ordem, e Engels, o único capaz de empreendimento tão arrojado, dedicou-se a decifrar a letra do companheiro, apreender a essência do seu pensamento, concatenar as idéias e dar uma estrutura lógica, o mais próxima possível do modo de Marx expressá-las.
Mas não foi a única tarefa que o velho amigo deixou. Engels passou a orientar o movimento operário europeu, respondendo a consultas sobre método, problemas localizados, criticando e estimulando camaradas.
E nunca abandonou a condição de cientista social. A partir das pesquisas antropológicas de H. Morgan, lidas e anotadas por Marx, formulou a teoria marxista do Estado, na obra A Origem da Família, da Propriedade Privada e do Estado, cujos pressupostos já estavam em sua obra anterior e na de Marx, mas não de forma sistêmica e embasada na história e na antropologia.
Seu último trabalho (1895) foi o prefácio à reedição de As Lutas de Classe na França, de Karl Marx. Nele, Engels faz considerações sobre o desenvolvimento da luta de classes e situa, pela primeira vez na teoria marxista, a distinção entre guerra de movimento e guerra de posições.
Na amplidão dos mares
No dia 5 de agosto de 1895, vitimado por um câncer no esôfago, falece Engels. Nos seus funerais, Wilhelm Liebknecht, líder operário, discursou: “Nele, teoria e prática se fundiram num todo único”. Presentes, atendendo ao seu pedido, apenas alguns parentes e amigos. Um grupo menor ainda, no qual estava Eleanor, filha caçula de Marx, atendeu a outro desejo, lançando as cinzas do seu cadáver no mar de Eastbourne, a duas milhas da costa.
Um só violino
Segundo Lênin, Engels foi “Depois de Marx, o mais notável sábio e mestre do proletariado contemporâneo”. Ele próprio se dizia o “segundo violino”. Na verdade, ambos foram fundadores, construtores do socialismo científico e mestres do proletariado. O seu maior mérito foi demonstrar que o socialismo não é uma invenção de sonhadores, mas “resultado inevitável do desenvolvimento das forças produtivas da so-ciedade atual”. Mas esse resultado não brota espontaneamente, advindo da luta das classes sociais – burguesia e proletariado – que estão em lados contrários ante as forças produtivas. Uma obra comum.  Um só violino a enlevar a orquestra revolucionária do proletariado na senda da emancipação.

8 de out. de 2010

Democracia Popular e Nova Democracia

HISTÓRIA DA DEMOCRACIA E LUTA DE CLASSES

As bases econômicas do surgimento, desenvolvimento e superação da democracia


A democracia, como categoria e fenômeno social concreto — e não a noção ou idéia de que os homens fazem dela — apareceu numa época determinada do desenvolvimento histórico da sociedade. Exatamente quando surgiu a divisão da sociedade em classes sociais, como conseqüência direta do aparecimento da propriedade privada. Já remonta séculos a aceitação, no mundo científico em geral e na antropologia em particular, a divisão da sociedade humana em três grandes épocas: a selvagem, a barbárie e a civilização, e cada uma delas divididas em dois estágios: inferior e superior.A ciência pôde comprovar1 que foi na passagem do estágio superior da barbárie para a civilização que, com um maior domínio sobre a natureza, pôde o homem aumentar sua produção e com isso obter um excedente. Até então a produção e a exploração da terra eram comuns. Com o excedente, a diferenciação entre os indivíduos na posse de bens diversos, principalmente alimento, vestuário e habitação, a divisão na produção entre dirigentes e executores. Surge então a propriedade privada, a divisão do trabalho e com ela um salto no desenvolvimento da história. Paralela-mente, se dá a passagem da família sindiásmica (baseada no matriarcado) para a monogâmica (patriarcado). A mulher sofre sua grande derrota histórica ao perder o direito materno. Até então a filiação e descendência só se conhecia pela linha materna dentro das gens, em função da poliandria prevalecente.
"A ordem social em que vivem os homens numa época ou e num país dados, está condicionado por essas duas espécies de produção: pelo grau de desenvolvimento do trabalho, de uma parte, e da família, da outra. Quanto menos desenvolvido está o trabalho, mais restringida é a quantidade de seus produtos e, por conseguinte, a riqueza da sociedade, com tanta maior força se manifesta a influência dominante dos laços de parentescos sobre o regime social."2
Com a propriedade privada, os produtores não produziam mais em comum para seu próprio consumo, mas individualmente. E se separam do resultado de seu trabalho, não sabem mais de seu destino. Agora produzem para a troca. Surge a exploração individual da terra e sua posse privada, tornando-a, por conseqüência, uma mercadoria. No seu desenvolvimento, a troca fez surgir o mercador. Alguém separado totalmente da produção que passa a dominar o produto e a produção. A divisão de classes na sociedade não é mais somente entre os produtores, dirigentes e executores, pequenos e grandes. O mercador, como parasita, passa a dominar e acumula grande riqueza e com ela, prestígio e poder. Aparece o dinheiro e a moeda cunhada, instrumento de domínio do mercador sobre os produtores e a produção. A terra como mercadoria passível de compra, venda e arrendo faz surgir a hipoteca. A recente divisão em classes, e a luta entre elas fez desagregar-se a sociedade baseada nas uniões gentílicas, dando lugar a uma nova organizada no Estado — cuja base passou às unidades territoriais — e na família monogâmica, que surge acompanhada de suas irmãs siamesas: a poligamia masculina e a prostituição feminina.
O dinheiro como equivalente geral elevou-se à condição de mercadoria especial. Aparecem o empréstimo, os juros e a usura. Com a riqueza privada, o domínio territorial como propriedade privada. Logo o próprio homem, como força de trabalho é também mercadoria. Junto à riqueza de mercadorias, escravos, a fortuna e a riqueza territorial. A partir da divisão da sociedade em classes, ocasionada pelo surgimento da propriedade privada, as guerras de rapina e domínio, alcançam a forma suprema, a mais eficiente e honrada de ter posses, de alargar os domínios. Surgiu a primeira sociedade de classes — o escravismo.
Como conseqüência direta da divisão de classes se expressou na organização pela classe dominante de um instrumento especial para a repressão e opressão da classe dominada. Engels afirma que "Uma sociedade deste gênero não podia existir senão em meio de uma luta aberta e incessante destas classes entre si ou sob o domínio de um terceiro poder que, colocado aparentemente por cima das classes em luta, suprimisse seus conflitos abertos e não permitisse a luta de classes mais que no terreno econômico, sob a forma chamada legal. O regime gentílico era já algo caduco, foi destruído pela divisão do trabalho, que dividiu a sociedade em classes e substituído pelo Estado."3
Antes da divisão em classes, processo que a sociedade percorre desde sua origem — a época selvagem e a barbárie — ela se desenvolve como comuna primitiva, em que o homem engatinha na luta pelo domínio da natureza, pela produção e reprodução das condições materiais imediatas de sua existência. Da caça e pesca, da agricultura ao pastoreio, toda a produção e exploração da terra, se dá de forma coletiva em todas as esferas. A comuna primitiva, no seu desenvolvimento, sua base, as gens que conformavam frátrias e estas em tribos, era uma organização social regida pelo igualitarismo, pelas decisões coletivas em assembléias de homens e mulheres adultos.
"Portanto, o Estado não existiu eternamente. Houve sociedades que se organizaram sem ele, que não tiveram a menor noção do Estado nem do seu poder. Ao chegar a certa fase do desenvolvimento econômico, que estava ligada, necessariamente, à divisão da sociedade em classes, esta divisão fez do Estado uma necessidade."4
Diferentemente, na fase anterior, particularmente do estágio superior da barbárie, a sociedade estava armada espontaneamente para a guerra de defesa e, logo, de conquista. "Essa força pública especial é necessária, porque na divisão da sociedade em classes é já impossível uma organização armada espontânea da população."5
Essa força pública especial se desenvolve como polícia, cadeias, instituições coercitivas de todo tipo, leis de exceção. Tudo como instrumento da classe economicamente dominante que se transforma em poder político. Deriva-se em burocracia administrativa-militar, surgem impostos, o Estado contrata empréstimos, dívidas, etc.
A prática social dos homens vai se aprofundando, da luta pela produção — e desta nas condições da propriedade privada e da divisão do trabalho — à da luta de classes. A base da sociedade na época da civilização, de uma forma geral está dada pela produção mercantil e as "...leis econômicas da produção mercantil se modificam, segundo os diversos graus de desenvolvimento desta forma de produzir; porém, em geral, todo o período da civilização está regido por elas."6
No seu desenvolvimento através dos mais dolorosos partos, a sociedade, ao chegar ao modo de produção capitalista, atinge o mais elevado estágio da produção mercantil. "Hoje [na sociedade capitalista] , o produto domina o produtor; hoje, toda a produção social está ainda regulada, não conforme um plano elaborado em comum, senão por leis cegas que se impõem com a violência dos elementos, em último termo, nas tempestades das crises comerciais periódicas."7
O conflito social entre classes antagônicas levantadas sobre o modo de produzir da situação material objetiva, desenvolve-se como fator subjetivo na condição de motor da história, impulsionando o desenvolvimento das forças produtivas e vice-versa. Chegando a um determinado grau de desenvolvimento, estas forças produtivas entram em conflito aberto com as relações de produção que as abrigam, transformando-se em contradição antagônica. A superação desta contradição faz explodir tais relações caducas conformando outras e novas relações de produção, que, libertando as forças produtivas vão impulsioná-las no seu desenvolvimento, num ciclo tal que só se encerra com a abolição das classes na sociedade.
No curso do seu desenvolvimento, a sociedade tem percorrido na época da civilização, um longo caminho da luta de classes. Tendo conhecido o escravismo e o feudalismo, o capitalismo, entrou definitivamente na etapa de transição para o comunismo. Com o advento do socialismo no século XX e, sob seu influxo, a libertação nacional e quebra do velho sistema colonial capitalista, o campo revolucionário e do socialismo chegou a abarcar dois terços dos países do mundo. O socialismo, como etapa de transição do capitalismo para o comunismo, ou como o próprio fundador do socialismo científico precisou, fase inferior do comunismo8, é também uma sociedade de classes. Portanto, de luta de classes. Ainda que, nas novas condições, o proletariado seja, agora, classe dominante. Conseqüentemente, a democracia existe, pela primeira vez na história, para a imensa maioria dessa sociedade. Enfim, os expropriados expropriam os expropriadores.
"Agora nos aproximamos com rapidez de uma fase de desenvolvimento da produção, em que a existência destas classes não só deixa de ser uma necessidade, senão que se converte em um obstáculo direto para a produção. As classes desaparecerão de um modo tão inevitável como surgiram um dia. Com o desaparecimento das classes desaparecerá inevitavelmente o Estado. A sociedade, reorganizando de um modo novo a produção sobre a base de uma associação livre de produtores iguais, enviará toda a máquina do Estado ao lugar que então lhe há de corresponder: ao museu de antiguidades, junto à roca e o machado de bronze."9
Conclui-se, então, que a democracia historicamente apareceu, com a propriedade privada e as classes sociais, através do Estado, como a "liberdade" concreta da classe dominante de exercer toda a ditadura sobre a classe dominada e assegurar sua exploração. O Estado é o instrumento desta ditadura. Desenvolve-se, aprimora-se, agiganta-se e sofistíca-se, segundo o progresso material econômico e cultural das sociedades de classes numa concatenação, que passa de estágios inferiores a superiores. E "A força coesiva da sociedade civilizada constitui o Estado, que, em todos os períodos típicos, é exclusivamente o Estado da classe dominante e, em todos os casos, uma máquina essencialmente destinada a reprimir a classe oprimida e explorada."10
A concepção materialista da história e a experiência histórica concreta da humanidade mostram que a democracia é o processo e caminho, através do qual o progresso econômico-social, como domínio da natureza pelo homem, na luta pela conquista da liberdade, conduz à abolição das classes. Uma sociedade nova, em que cada um de seus estágios corres-ponde diretamente ao grau de desenvolvimento e progresso obtido na produção. O que, de forma geral, traduz-se como a luta da humanidade pelo domínio da natureza, por passar do reino da necessidade ao reino da liberdade. Este processo, este caminho, no transcurso de milênios, não é um simples desenvolvimento, uma evolução meramente quantitativa. Conjuga evolução lenta e viragens por saltos, via revolucionária, pelo conflito tormentoso da luta de classes como seu motor e a violência como parteira. Neste sentido, a democracia atingiu na época da grande indústria, do capitalismo, a forma mais desenvolvida possível dentro de uma sociedade de classes antagônicas, baseada na exploração do homem pelo homem. É, ao mesmo tempo, a forma e caminho para o desaparecimento completo, com a implantação do socialismo e a abolição das classes.
Mas, se o socialismo é também uma sociedade de classes, a democracia socialista também é uma ditadura – ditadura do proletariado. Só que, diferentemente da democracia burguesa que, como afirmamos, é a forma mais desenvolvida. Mas só é mais desenvolvida nas condições da sociedade de classes assentada na exploração do homem, é a ditadura da maioria sobre a minoria. A democracia no socialismo é, então, não somente sua forma superior, mais autêntica, verdadeira. É também, sua etapa derradeira, premissa de sua superação histórica. Democracia quer dizer igualdade. No capitalismo ela é uma igualdade apenas formal. No socialismo é verdadeira e autêntica. Ao contrário da democracia burguesa que é de uma minoria e é ditadura para a imensa maioria, a democracia socialista é democracia para a imensa maioria (os trabalhadores) e ditadura para a minoria (classes exploradoras). Por isto mesmo, seu conteúdo já não é exatamente o mesmo das ditaduras anteriores. É uma ditadura revolucionária democrática dos explorados.
Numa passagem de uma de suas correspondências, datada de 5 de março de 1852, Marx esclarece, em forma de síntese, sua concepção sobre a história, que é sumamente importante ser aqui citada. Ele afirma que: "E agora, no que me diz respeito, não ostento o título de descobridor da existência das classes na sociedade moderna, nem tampouco da luta entre elas. Muito antes que eu, os historiadores burgueses haviam descrito o desenvolvimento histórico desta luta de classes, e os economistas burgueses da anatomia econômica das classes. O novo que aportei foi demonstrar: 1) que a existência das classes está vinculada unicamente a fases particulares, históricas, do desenvolvimento da produção; 2) que a luta de classes conduz necessariamente à ditadura do proletariado; 3) que esta mesma ditadura só constitui a transição da abolição de todas as classes e a uma sociedade sem classes.." [os grifos são de Marx].
E arrematando, "Os estúpidos ignorantes como Heinzen, que não só negam a luta de classes, senão, inclusive, a existência das classes, só provam que, apesar de seus grunhidos aterradores e dos ares humanitários que se dão, consideram às condições sociais nas quais se baseia a dominação da burguesia, como o produto final, o nec plus ultra [limite final] da história; eles provam que são tão somente serviçais da burguesia. E quanto menos compreendem estes palhaços da grandeza e, inclusive, da necessidade temporária do regime burguês, tanto mais repugnante é seu servilismo." 11
De passagem, podemos verificar aqui, além do que é mais importante, que a tese do "fim da história", tão dourada e elevada à quinta essência da sabedoria burguesa de nossos dias pela mídia mundial e meios acadêmicos, nos anos 90 e ainda em voga, não tem nada de original. Os Fukuyamas sempre pelejaram em vão contra o velho Marx.

ESTADO, DITADURA E DEMOCRACIA

Comumente se pensa e se tem como verdade, confundir o Estado Nacional, o Estado Nação com o Estado enquanto organização, aparelho e instrumento de manutenção do status quo, que se acha aparentemente acima das classes sociais. Uma coisa é a Nação Brasileira, que ainda de formação incompleta dada a situação de domínio e subjugação externas que tem condicionado historicamente seu desenvolvimento, e em cujo território se encontram, diferentes classes sociais como, a grosso modo podemos definir, a grande burguesia e latifundiários que exploram a classe operária e outras classes de trabalhadores. Na cidade e no campo. Outra coisa é o Estado brasileiro como instrumento de manutenção da ordem de dominação, a máquina burocrática-administrativa-militar das classes exploradoras dominantes, serviçais do imperialismo. Então, o Estado Nacional, a Nação, seu território, sua gente, seu povo, o país, não é o mesmo que a máquina burocrática-admistrativa-militar incrementada fê-las classes dominantes para exercer, de forma sistemática, a repressão sobre as classes exploradas.


O Estado, como uma força especial para a repressão, em toda a sua história, desde a origem e desenvolvimento à sua extinção, não tem interesse na liberdade, mas na repressão. Isto é tão verdadeiro que, "quando for possível falar de liberdade não haverá Estado."12
Da mesma forma se maneja os conceitos de ditadura e democracia. Como sendo contrários e independentes. Que se dão separadamente em realidades determinadas. Ou seja, a ditadura é uma coisa e a democracia é outra. Assim, difunde, ensina, prega e propagandeia a ideologia burguesa.
Ditadura e democracia são contrários interdependentes de uma mesma unidade, cujo Estado é uma de suas manifestações. Ditadura e Democracia formam uma unidade de contrários (essência da dialética materialista). Sempre e inevitavelmente, onde existe ditadura existe democracia. É ditadura para os dominados e democracia para os dominantes. Onde existe Estado existe invariavelmente ditadura e democracia. Sendo o Estado uma força especial de repressão, instrumento das classes dominantes para submeter à classe dominada, é, independente da forma que se reveste, ditadura para os dominados e democracia para os dominantes. Lenin afirma que "A democracia é uma forma de Estado, uma das suas variedades." e que, "...consequentemente, ela representa em si, como qualquer Estado, aplicação organizada, sistemática, da violência sobre as pessoas"13
O Estado é uma de suas variedades, porque a democracia, em suas diferentes fases de desenvolvimento, existe também fora e além do Estado. Como é nas organizações das massas populares. Aqui, também podemos examinar que o princípio revolucionário de centralismo democrático, que se assenta no critério geral da sujeição da minoria pela maioria — e em que se baseia toda democracia revolucionária —, não desaparece com a extinção do Estado, que leva consigo ao desaparecimento da democracia. O princípio da sujeição da minoria à maioria só coincide com a democracia nas sociedades de classes em geral e no Estado em particular. Na sociedade sem classes é tão somente um princípio, um critério.
Há que ressaltar ainda que, a não explicitação da distinção entre sistema de poder e sistema de governo que compõe o Estado, serve à vulgarização e à propaganda ideológica das classes exploradoras. Faz-se necessário que remarquemos isto. O sistema de poder diz respeito à essência, à natureza do Estado, do seu caráter de classes. Que por sua vez só se pode alterar via revolução, o derrocamento completo das classes dominantes pelas dominadas. Já o sistema de governo diz respeito somente às formas de que se reveste esta dominação. A ditadura burguesa revelou ao longo da existência da sociedade capitalista, duas formas básicas de exercer a sua dominação: a demo-liberal ou o parlamentarismo representativo, e a fascista. Vulgar-mente se denomina de democracia a primeira e de ditadura a segunda, quando ambas são formas distintas de se exercer a ditadura burguesa segundo a gravidade que o conflito da luta de classes tenha escalado.
Outra questão de suma importância quanto ao Estado é sobre como se dá seu desaparecimento. Abordaremos apenas de passagem. Já citamos a diferença que o distingue no socialismo de toda a fase anterior. À base de ser, no socialismo, a ditadura exercida pela maioria, a função de força especial para repressão se reveste de formas distintas. A construção do socialismo, ou seja, a ditadura do proletariado, é o processo da participação crescente de toda a população nas funções de controle e administração pública. Quando, cada um e todos estiverem participando das atividades de controle e administração pública, a razão de reprimir não existirá mais. As classes sociais terão desaparecido e, com isso, o conflito de classes. O Estado então se extinguirá. Portanto, ele não pode ser abolido por força ou meio algum. Só pode extinguir-se na medida em que desapareçam as bases materiais que o fizeram surgir e o mantiveram como necessidade histórica.
É interessante verificar, frente a isto, toda a mistificação que a burguesia e a reação em geral fazem a respeito da questão do Estado. Acusam os marxistas de defensores do estatismo e adoradores do Estado. Quando do desmoronamento da ex-URSS, este discurso transformou-se em bordão da moda. E claro, feito sob o cálculo da luta ideológica, que a burguesia, mesmo vaticinando o fim do comunismo, tem que manter latente contra o proletariado. Não pode descansar dele, porque o "fim do comunismo" é apenas uma mentira que, mesmo repetida mil vezes, é desmentida pela realidade brutal da luta de classes. O que ocorreu de fato, é que o que desmoronava na ex-URSS, Leste Europeu e outros, não era nenhum estatismo comunista ou socialista, e sim a burocracia de um capitalismo decadente e muito débil que foi restaurado a partir da segunda metade da década de 50 na União Soviética. Daí em diante, não houve nada de socialismo naquele Estado, além de aparências e formas. O capitalismo se restabeleceu sob essas formas e o seu derrocamento nos anos 90, nada mais era que parte da crise geral do capitalismo, sua manifestação ali onde se revestia de uma forma burocrática estatal. É o mesmo que se passa hoje na China (desde 76), que o imperialismo taxa de regime comunista. Não existe aí socialismo algum ou partido comunista que não seja uma caricatura grosseira, que agora, publicamente tem assumido capitalistas no seu comitê central. Na China de hoje, como antítese direta da época do socialismo, opera um sistema capitalista dos mais ferozes, onde a taxa de exploração dos trabalhadores chega às raias do trabalho escravo. Este é o segredo da grande expansão e competitividade das mercadorias chinesas no mercado mundial.
Esta luta ideológica que a reação trava contra o proletariado, é a de identificar estes sistemas capitalistas como comunismo para desfigurar e difamar o socialismo e o comunismo. Não distinguir o período em que se construiu o socialismo com o que passou a capitalismo restaurado, chamando tudo de socialismo e comunismo, serve a esta luta ideológica que é de extrema importância para a reação. Somente os oportunistas mais descarados, falsificadores do marxismo, colaboram com a reação na defesa da existência de socialismo aí, como mediocremente justificam como "socialismo de mercado".
Os marxistas, lutam pelo fim do Estado, só que à diferença do anarquismo que o nega totalmente desde já, compreendem cientificamente o curso histórico que, inevitavelmente, há que percorrer a sociedade na luta de classes, para estabelecer a ditadura do proletariado para cumprir sua missão histórica exclusiva de abolir as classes e, com isso, conduzir o Estado à sua extinção. "Propomos como objetivo final a supressão do Estado, isto é, de toda a violência organizada e sistemática, de toda a violência sobre os homens em geral. Não esperamos o advento de uma ordem social em que o princípio da subordinação da minoria à maioria não seja observado. Mas, aspirando ao socialismo, estamos convencidos de que ele se transformará em comunismo e, em ligação com isto, desaparecerá toda a necessidade da violência sobre os homens em geral, da subordinação de um homem a outro, de uma parte da população a outra parte dela, porque os homens se habituarão a observar as condições elementares da convivência social sem violência e sem subordinação."14
Foi exatamente a burguesia que erigiu o Estado à sua onipotência e à sua adoração, à fé e superstição nele, cuja representação filosófica, segundo seus ideólogos, é a de que "...o Estado é a realização da Idéia ou reino de Deus na Terra." Superstição esta levada às últimas conseqüências pela moral pequeno-burguesa, por suas direções que são capazes de tudo pelos lugarzinhos "honrosos" e lucrativos, e quando não muito lucrativos, servem de trampolim para saltar para lugares altamente lucrativos nos bancos e nas sociedades de ações.

1 Friedrich Engels — A Origem da Família, da Propriedade Privada e do Estado — Obras Escolhidas Marx-Engels — Editorial Progresso 
2 a 7 Idem 
8 Karl Marx – Crítica ao Programa de Gotha 
9 Friedrich Engels — A Origem da Família, da Propriedade Privada e do Estado —Obras Escolhidas Marx e Engels — Editorial Progresso 
10 Idem 
11 Karl Marx – Carta a Weydemeyer – Obras Escolhidas Marx-Engels – Editorial Progresso 
12 Engels em Carta a Augusto Bebel- de 28 de março de 1875 – Correspondência de Marx e Engels 
13 Lenin, O Estado e a Revolução - Obras Escolhidas - Editorial Progresso 
14 Idem