Comitê de Defesa da Revolução Agrária

Comitê de Defesa da Revolução Agrária
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12 de dez. de 2009

Saiba como trotskistas bolivianos trairam Chê Guevara




A morte de Chê Guevara já teve mil versões, mas todas têm algo em comum: o fato inexplicável de os revolucionários bolivianos não terem dado apoio ao revolucionário argentino,companheiro de Fidel Castro na Sierra Maestra. Qual teria sido a razão dessa falta de apoio? Pelo que fui informado, na Bolívia, houve uma disputa ideológica entre o stalinista Chê, e os trotskistas bolivianos.Em que fundamento essa minha asserção?Em 1973, sete anos após a morte de Guevara, fui à Bolívia, várias vezes, para negociar contrato de trabalho geológico em La Paz, para uma firma de geologia e fundações em New Jersey , com a qual eu trabalhava. La Paz foi construída em solo instável, composto de cinzas vulcânicas, e sofre freqüentes deslizamentos de bairros inteiros. O secretário de obras da capital boliviana era o engenheiro Francisco Carafa, que estudara na Universidade de Córdoba, na Argentina. Carafa é um sobrenome antigo na Bolívia, desde épocas coloniais, nome este dado à capital do Departamento (Estado) de Cochabamba. Esse engenheiro boliviano era um trotskista exaltado, mas tinha grande orgulho de seu nome italiano, e também do fato de ser "descendente colateral", assim afirmava, do cardeal napolitano Gian Pietro Carafa, eleito papa em 1555, com o nome de Paulo IV.A repressão política do governo militar da Bolívia, naquela época, era muito grande.Todavia, Carafa fora nomeado secretário de obras de La Paz e miraculosamente se mantinha fora dos cárceres. Depois descobri que sua proteção "política" na verdade vinha de ligações românticas, mantidas com secretárias dos vários ministérios ligados à repressão. Essas senhoras, algumas delas de idade bem avançada, e de aparência nada agradável, destruíam todos os documentos que lhes passassem nas mãos, nos quais Carafa fosse acusado de subversão. Assim, o secretário de obras de La Paz se mantinha livre.Mais ainda, mantinha até ligações cordiais com o embaixador americano, sendo freqüentemente convidado às festas daquela embaixada.Professor de engenharia da Universidade de San Andrés, o professor Carafa criara entre os estudantes, um programa recrutamento de quadros para a causa trotskista. Era também muito popular entre os trabalhadores indígenas aimará, que sempre o recebiam com palmas, quando visitávamos as obras da cidade de La Paz.Carafa era casado com uma professora argentina, que conhecera na Universidade de Córdoba. Os dois tinham um filho de 5 anos, chamado Tupac, em homenagem a Tupac Amaru, o famoso índio rebelde boliviano de época coloniais. Hoje encontro o nome de um professor Tupac Carafa, no site da Universidade de Córdoba, e imagino se não seria o mesmo Tupac, que conheci em 1973, quando ele tinha ainda 5 anos de idade.Naquela época de 1973, já divorciado da professora argentina, o professor Francisco Carafa estabelecera relações com uma enfermeira, também argentina, que trabalhava num hospital de La Paz. Foi através dessa enfermeira que descobri a história real da morte de Chê Guevara.Essa amiga do professor Carafa, em um jantar, reclamou ter ele liderado uma recente "rebelião inútil" dos estudantes da Universidade de San Andrés. Os alunos tinham se apoderado da universidade, localizada em um alto edifício no centro de La Paz.Tendo aprisionado inúmeros soldadinhos cholos (como derisivamente os índios são chamados), os estudantes os levavam ao último andar do edifício da universidade, e os jogavam pelas janelas, para vê-los estourar na calçada, lá embaixo. Verdadeiros humanitários, prontos para salvar a Bolívia e o mundo.Mais ainda, a enfermeira amiga do professor contou-me, na presença do mesmo, como ele fora "responsável pela morte de Chê Guevara". Perguntei então a Carafa como isso acontecera. Replicou-me que de fato ele era a liderança trotskista boliviana tinha convidado Guevara para ajudar a organizar a revolução naquele país. Criamos, assim me asseverou, que Guevara fosse um "marxista autêntico". Porém, quando este chegou à Bolívia, descobrimos que não passava de um "stalinista enrustido", um revolucionário em quem não podiamos confiar. Os trotkistas tentaram ainda "educá-lo" no caminho do "marxismo autêntico", mas este se recusava a discutir o assunto. Deram-lhe então livros de Trotsky e outros documentos sobre o trotskismo, para que Chê, pudesse descobrir a "verdade" por ele mesmo."Sabe o que ele fez?", exclamou Carafa indignadamente, "rasgou os livros de Trotsky y los echó en la basura (jogou-os no lixo).Nessas condições não tínhamos mais, como manter um diálogo com Chê Guevara. Então o abandonamos. Não foi nem necessário denunciá-lo aos agentes da CIA.Eles próprios o encontraram e o mataram".O dirigente do Partido Operário Revolucionário (POR), professor Franscisco Carafa se sentia totalmente vindicado, pelo que ele e seus companheiros trotskistas tinham feito à Guevara. Fora uma disputa ideológica, entre Chê e os trostkistas bolivianos, resultando na morte do herói argentino da Sierra Maestra. De acordo com a versão daquele professor da Universidade de San Andrés, o tiro dado em Chê Guevara pode ter saído do fuzil de um soldadinho cholo qualquer, mas a responsabilidade de sua morte fora dos trotskistas bolivianos que o abandonaram. "Bem feito", lia-se nas entrelinhas do que Carafa me contava. Não ouvi dele nenhuma palavra de arrependimento pelo que fizera.




11 de dez. de 2009

Sobre o marxismo e a psicanálise!


Muitas vezes me dizem que o marxismo foi uma grande moda, mas eu, pessoalmente, nunca vi esta moda. Pude presenciar uma moda nietzscheana, que faziam aparecer fãs de Nietzsche por todos os lados, e esta moda foi correlata à de Foucault e seus discípulos pós-estruturalistas nas instituições acadêmicas; de repente, para além do bem e do mal foi para o primeiro lugar nas vendas de livros de bolsos, e um conjunto considerável de intelectuais ostentava citações de Foucault por todos os lados, e de repente vi dois escritores, tão aclamados por sua fama de inconoclastismo, serem elevados um ao status de um best-seller de livros de bolso e protagonista de romances igualmente best-sellers, e, outro, elevado à mestre do pedantismo. Ao mesmo tempo, ambos se tornaram autoridades que garantiam uma refutação infalível ao marxismo e à psicanálise.E foi o antimarxismo e o antifreudismo que eu presenciei, e continuo a presenciar, com os meus olhos, e a ouvir com os meus ouvidos. Mesmo que me digam que houve uma moda em torno de versões ultra-vulgarizadas do "marxismo" e da psicanálise, eu realmente duvido que tenha havido qualquer difusão real, para além dos muros das universidades brasileiras, que, como se sabe, educam atualmente apenas 8% dos jovens, e, com certeza, antigamente essa proporção era ainda menor.Isso difere consideravelmente da transformação de um filósofo em best-seller e tema de best-seller. Se é possível aplaudir ao menos um aumento da leitura neste país de analfabetos que pavoneia estatísticas duvidosas aonde o analfabetismo aparece como minoritário, e, além disso, a leitura de um filósofo importantíssimo, que, além de tudo, era sem dúvida um grande literato, podemos nos perguntar se estes leitores eram capazes de compreender aquilo que leram, ou se compravam para realmente ler, e não para deixar o livro enfeitando uma estante, como muitos adoram fazer. Uma comprovação óbvia é a da recepção extremamente acrítica que é dada a Nietzsche pelo público em geral. E o mesmo se pode dizer a respeito do pedantismo que pavoneia foucaultismo. Como no pavão, as penas coloridas escondem pés horrorosos.

O foucautismo-nietzschismo (e sem dúvida existem muitas outras leituras possíveis de Nietzsche além da foucaultiana) serve mais como antimarxismo e antifreudismo do que como um paradigma teórico consistente. 
No Brasil, não conhecemos ainda a fama de charlatão que Foucault desfruta na Europa, aonde vários historiadores e sociólogos apontaram a frouxidão das suas pesquisas historiográficas, que são, aliás, o tema dos seus principais livros (História da loucura, As palavras e as coisas, Vigiar e punir, História da sexualidade), e a sobreposição da retórica sobre a lógica, enfim, como este autor tão idolatrado por aqui é denunciado frequentemente como um impostor que queria levar a fama de "pensador para além do bem e do mal" com base na falsificação de pesquisas. Este charlatão é invocado como apóstolo do antimarxismo e do antifreudismo, isto é, na prática, esta ao lado dos neoliberais, neopositivistas e conservadores no debate intelectual e cultural. Ora, o que eu tenho visto nas salas de aulas da universidade aonde eu estudo é uma doutrinação sem limites, que, hipocritamente, se defende acusando "o" marxismo, "a" psicanálise, de fazer o mesmo. E mais, vejo surtos paranóicos da pior espécie, denúncias de uma suposta conspiração marxista que domina as universidades, quando na verdade o antimarxismo histérico é predominante. É evidente, porém, que não estou a acusar uma suposta conspiração antimarxista, mas é impossível não reparar as analogias de comportamento que aparecem frequentemente sob o rótulos de ideologias aparentemente tão diversas. Não é por estarem todas contra o marxismo e a psicanálise, mas por adotarem contra ela o mesmo ritual de exorcismo: a denuncia da "conspiração de intelectuais marxista que domina a universidade" e a refutação-padrão.De um lado, vemos um procedimento que consiste em fazer uma caricatura do que é "o" marxismo e "a" psicanálise e refutar essa caricatura, como se tivesse refutado a própria teoria. Ora, se me falam de marxismo, eu pergunto: qual marxismo? Em psicanálise, também é útil este procedimento. Marx afirmou certa vez que não era marxista, mas, quanto aos marxistas, não há homogeneidade, mesmo que haja uma semelhança muito superficial de terminologia, mas, porém, os conceitos são interpretados de forma muito diversa, de modo que o marxismo de Lukács não é o de Gramsci, embora ambos estivessem mais próximos entre si do que estavam de Karl Kautsky e Plekhanov. O marxismo de Lênin não é o mesmo da Escola de Frankfurt, e o destes dois não é o mesmo que o de Gramsci, e todos os anteriores diferem de Henri Lefebvre, e assim por diante.

Se Marx não era marxista, e os marxistas não concordam entre si, não há, portanto, "o" marxismo.A psicanálise possui um grau de consenso maior, mas, mesmo assim, não se pode dizer que não haja discordância entre as correntes, inclusive a divergência muito profunda entre a psicanálise revisionista de Fromm e a psicanálise lacaniana. Mas, quando é para atacar, a ignorância se reveste da capa pedante e reduz todos à "mesma coisa", e é evidente que o objetivo é dissuadir os alunos de procurarem aprender por conta própria, dando para eles uma fórmula refutadora, repetida ritualmente. O marxismo e a psicanálise tornam-se, então, mitos, narrativas fantásticas, amparadas por interpretações canônicas, como na exegese bíblica dos teólogos cristãos. 

Tudo se passa como se Marx e Freud houvessem tomado o lugar do diabo, e o marxismo e a psicanálise, o lugar do pecado, nesta nova escolástica que renasce nos tempos modernos. O esquema da refutação, que livrará as nossas boas almas do estigma do pecado, também é facilmente mapeável: primeiro, o marxismo é reduzido a um economicismo evolucionista que constituía a ideologia oficial soviética, isto é, o marxismo é reduzido a um sinônimo de stalinismo, segundo, decreta-se que o regime soviético foi uma aplicação mecânica do "marxismo", terceiro, todos os autores, vivos ou mortos, da história do marxismo são indiscriminadamente acusados de defender o economo-evolucionismo e um regime de tipo soviético e responsáveis por ele (mesmo que fossem críticos tenazes dele!), quarto, opõe-se implicitamente a isso uma concepção cientificista, relativista ou religiosa, quinto, delira-se a respeito de uma suposta conspiração de intelectuais marxistas dominando a universidade. Ponto. Que qualquer um experimente testar, ver a aula de um antimarxista para ouvir algo parecido, mas eu alerto que é um tipo-ideal, como os de Weber, autor que o antimarxismo evoca como se fosse um santo protetor, e quem quiser ver e ouvir por conta própria corre o risco de ouvir delírios ainda piores.


A psicanálise também é refutada dentro do mesmo esquema: primeiro, a teoria psicanalítica é acusada de pensar que "todos querem comer a mãe" (idéia equivocada por imaginar que a psicanálise é apenas o complexo de Édipo e por interpretar inadequadamente o próprio complexo de Édipo), segundo, a psicanálise é acusada de não corresponder aos cânones do cientificismo positivista que quer "fatos" e não gosta de interpretações, terceiro, opõe-se à psicanálise um behaviorismo mecânico, um culturalismo idealista ou a velha crença na alma imortal, ou, no extremo, algum ontologismo qualquer. Ora, que paradigmas simples para refutar!Em parte, eu reconheço que a culpa desse liquidacionismo antimarxista e antifreudiano, em grande parte, é das próprias ultra-vulgarizações. Ao longo dos meus 21 anos de experiência vivida, nunca vi nenhuma "moda marxista" ou freudiana, e duvido que ela tivesse realmente tido a proporção que a moda nietzscheana e pós-moderna tiveram até alguns meses atrás, mas é possível encontrar pequenos manuais que apresentam estas vulgarizações, e ter notícia de um ou outro intelectual brasileiro de alguma fama, que defendia estas versões vulgarizadas. 

São elas que atraem uma reação.Até mesmo em livros didáticos encontra-se resquícios de uma dicotomia eterna entre "elite" e "povo". Não sou contra vulgarizações em absoluto, mas é preciso observar que um livro de vulgarização não deve reduzir o tema apresentado a uma caricatura, a um esquema imbecil, mas apenas dar uma introdução ao assunto em um texto coeso, deixando claro que é preciso um aprofundamento.E, certamente, os intelectuais devem escrever estas vulgarizações para o grande público, mas, para os outros intelectuais, é preciso escrever obras consistentes, que façam justiça ao assunto, sem simplificações abusivas. Mas não se pode atribuir o antimarxismo acadêmico apenas às vulgarizações; elas fornecem argumentos para ele, mas não são a sua causa. Qual seria a explicação? Eu, pessoalmente, estou inclinado para a hipótese de que o antimarxismo é uma forma de afirmação de feudos acadêmicos. Entre os economistas, por exemplo, o antimarxismo serve ao feudo, acadêmico e editorial, dos velhos partidários do homo economicus que reaparece nas fórmulas da "rational choice" e demais combinações de individualismo atomista e utilitarismo instrumental.

Entre os filósofos, o antimarxismo pode apoiar o niilismo de cátedra nietzscheano-heideggeriano e o neopositivismo; entre os social scientists, é fácil usar o antimarxismo para cerrar fileiras nas correntes pseudoweberianas, isto é, no culturalismo absoluto; e assim por diante.

Com um inimigo que, paradoxalmente, é tão fácil e identificar e invisível, é fácil manter a unidade da "panelinha", e, portanto, do tráfico de influência, e ao invéz de se pensar em estimular a pesquisa e o ensino e denunciar a corrupção que está dominando a vida universitária, todos vão ficar se policiando mutuamente para que ninguém caia nas terríveis heresias marxista e psicanalista, e nem critique os dogmas das novas escolásticas.